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Fecho por instantes os olhos e lembro com nitidez a primeira vez que dormimos juntos, o primeiro beijo, o primeiro abraco, a descoberta assombrosa de um amor surgido quando menos procuravamos, a ternura que nos tomou de assalto quando nos julgavamos a salvo numa aventura de uma so noite, da profunda intimidade criada desde o inicio, como se durante as nossas vidas inteiras nos tivessemos preparado para este encontro, a facilidade, a calma e a confianca com que nos amamos, como as de um velho casal que partilhou mil e uma noites. E todas as vezes depois de satisfeita a paixao e renovado o amor, dormimos muito juntinhos sem querer saber onde comeca um e acaba o outro, nem de quem sao estas maos ou estes pes, numa tao perfeita cumplicidade que nos encontramos em sonhos e no dia seguinte nao sabemos quem sonhou com quem, e quando nos movemos nos lencois o outro preenche os angulos e as curvas, e quando um suspira o outro suspira, e quando um acorda, o outro acorda tambem.
-Paula, Isabel Allende