"Estamos a destruir a expetativa"
"Aquilo que estes autores vêm dizer é que se calhar não é bem assim como estávamos a pensar e se calhar muito do prazer que temos com o consumir de substâncias como o álcool não tem a ver com o gostar, não tem a ver com o consumir, mas tem a ver com o pensar em consumir, tem a ver com o desejo, com a expectativa (gostar é diferente de desejar). O que eles verificaram é que partindo do primeiro consumo, a nossa parte do gostar em termos do prazer vai diminuindo, ou seja, através de fenómenos de tolerância, quando repetimos os consumos, o gostar vai diminuindo. O que vai aumentando é o processo de condicionamento e a expectativa. Isto quer dizer que provavelmente todas estas áreas são estimuladas quando o paciente alcoólico caminha para o bar e sabe que vai beber, ou quando o toxicodependente prepara o garrote para se injectar, mais do que a própria substância no organismo. Por exemplo, acontece-vos isso quando combinam algo com os vossos colegas, e a expectativa da própria festa que vocês têm programada vos deu mais gozo do que quando estiveram lá. Este é o poder da expectativa. Nós em termos de sociedade de consumo, pensem nisto, estamos a destruir a expectativa. Hoje ninguém tem paciência para esperar, porque querem é ter as coisas logo. Ao destruir a expectativa estamos a destruir o prazer. Estamos a evoluir e transformar a sociedade através do paradigma do consumo toxicodependente, que é o mínimo custo e o máximo do benefício em termos do prazer. Mínimo custo que é adquirir a substância e o prazer máximo. É o esforço de obter que dá o prazer, dizem estes autores, e se eles estiverem correctos, nós estamos gradualmente e a passos largos a destruir a nossa capacidade de sentir prazer."
(retirado das desgravadas das aulas de ISM, 3º ano FMUL, Prof. Dr. Samuel Pombo)gráfico: The neural basis of drug craving: an incentive sensitiation theory of addiction. Robinson T., Berridge, K. Brain Research Reviews, I8 (1993) 247-291